“E se a gente fizesse um bloquinho?” Do churrasco entre amigos aos grupos no Facebook, a pergunta se repetiu por toda a cidade – mas não ficou só na intenção. Este ano, o carnaval de rua de São Paulo promete bater novo recorde, com 509 agremiações inscritas, o que pode mudar até a divulgação da programação oficial. Entre os entusiastas há aqueles que já apostam que a festa pode superar a carioca em tamanho.

Para o organizador de eventos Diego Leporati, de 32 anos, a ideia veio após uma faxina em casa. “Deitei no sofá, entrei no grupo e postei: o que acham de criarmos o bloco Cecílias e Buarques?”, lembra ele, que administra no Facebook página para moradores de Santa Cecília e Vila Buarque.

Em três meses, 20 deles se uniram à bateria do bloco, focado em samba, marchinhas e música popular brasileira. E ele ganhou até mitologia própria: “É a história de amor entre a Cecília, uma mulher empoderada, que no carnaval conhece o Buarque, um malandro paulistano”.

Enquanto na zona leste o Cordão da Dona Micaela pretende resgatar o carnaval tradicional, com samba e desfile de bonecões, na zona oeste, dois novos blocos prometem dar o que falar. Um deles é o Filhos de Gil, que vai reunir canções de Gilberto Gil, como já fazem o Ritaleena (de Rita Lee) e o Tarado Ni Você (de Caetano Veloso).

Embora criado por homens, o Filhos de Gil tem mais de 90% da bateria formada por mulheres, que participaram de oficinas de percussão. “Acho que é uma tendência”, arrisca um de seus fundadores, o músico Pedro Keiner, de 29 anos.

Já o Desliga e Vem, também de Pinheiros, elegeu como repertório os sucessos do pagode dos anos 90, de grupos como Raça Negra e Exaltasamba.

Crescimento

Nascido no Rio, o editor de vídeo Leo Kaufman, de 37 anos, começou a participar mais do carnaval de rua quando se mudou para São Paulo, há pouco mais de três anos. Em 2018, além de pular no Desliga e Vem, do qual é um dos fundadores, ele vai filmar os desfiles de 25 blocos locais para o documentário Histórias de Carnaval, focado exclusivamente na folia paulistana.

Para ele, o crescimento do carnaval em São Paulo está ligado ao surgimento de oficinas de percussão, como ocorreu no Rio, com grupos como o Monobloco. O professor de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Micael Herschmann destaca que a alta do carnaval de rua expandiu a “temporalidade” do evento. “O que era pensado para ser uma festa de quatro dias se tornou uma festa de verão”, afirma.

Clima interiorano

O clima de cidade do interior no Largo da Matriz, na Freguesia do Ó, na zona norte, deu o tom do primeiro ensaio aberto do ano do Bloco Urubó. “Aqui não tem baixaria. Quem vem já se conhece ou aparece com alguém do bairro”, diz a vendedora Fátima de Freitas, que foi com uma amiga.

A trilha sonora, que privilegiou marchinhas antigas, foi outro dos atrativos. “Quem vem aqui normalmente não quer ouvir Anitta”, ria o empresário Sérgio Riba, que conheceu o bloco por meio de amigos.

Outros blocos também começaram suas temporadas carnavalescas neste fim de semana. O Ilú Obá de Min ensaiou no Vale do Anhangabaú e o Minhoqueens fez esquenta na Treze de Maio, no centro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: ISTOÉ Independente